sexta-feira, dezembro 01, 2006

3º ESTUDO DO EVANGELHO DE MARCOS

O Evangelho de Marcos – cap.14. 32-42 NVI)

(14.32) Então foram para um lugar chamado Getsêmani, e Jesus disse aos seus discípulos: “Sentem-se aqui enquanto vou orar”. (33) Levou consigo Pedro,Tiago e João, e começou a ficar aflito e angustiado. (34) E lhes disse: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem”. (35) Indo um pouco mais adiante, prostrou-se e orava para que, se possível, fosse afastada dele aquela hora. (36) E dizia: “Abba,Pai, tudo te é possível. Afaste de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres”. (37) Então, voltou aos seus discípulos e os encontrou dormindo. “Simão”, disse Ele a Pedro, “você está dormindo? Não pode vigiar nem por uma hora? (38) Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O Espírito está pronto, mas a carne é fraca.” (39) Mais uma vez Ele se afastou e orou, repetindo as mesmas palavras. (40) Quando voltou, de novo os encontrou dormindo, porque seus olhos estavam pesados. Eles não sabiam o que lhe dizer. (41) Voltando pela terceira vez, Ele lhes disse: “Vocês ainda dormem e descansam? Basta! Chegou a hora! Eis que o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. (42) Levantem-se e vamos! Aí vem aquele que me trai!”

(14.32) Então foram para um lugar chamado Getsêmani. O caminho pelo qual o grupo dos homens saiu da cidade, cansado e conturbado, é uma rota antiga em uso há séculos. Por ela fugiu o rei Davi de seu filho sedento pelo poder, há 1000 anos, descalço e chorando, junto com seus homens (2 Sam.15.23). O caminho por onde o pequeno grupo se movimentou, nesse dia do mês era iluminado pela pálida luz da lua e, à direita dos homens cansados, erguiam-se vários grandes túmulos, lançando longas sombras. O de Zacarias, em forma de pirâmide e que ainda hoje existe, já estava ali quando Jesus por ele passou, rumo ao jardim Getsemani à procura de solidão. O apóstolo João menciona um jardim sobre o ribeiro Cedrom (18.1) onde Jesus ia muitas vezes com seus discípulos. Desde o século 4 este jardim é localizado perto desse riacho. Aos peregrinos atuais, três locais são apresentados: o jardim Franciscano, o Getsêmani russo e Getsêmani armênio. O nome “Getsêmani” tem sua raiz em duas palavras hebraicas: “gath” (Prensa) e “Shemânîm” (Azeite). Supõe-se que naquele jardim com suas grandes oliveiras havia uma prensa para o precioso produto. Bom azeite só podia ser produzido em locais frescos, por exemplo, em cavernas. Portanto, a descoberta de uma caverna natural com a entrada de 10 por 17 metros ajudou a localizar este jardim, no tempo de Jesus propriedade particular e murado. Outras vezes Jesus já o havia procurado para o descanso ou para o pernoite.
E Jesus disse aos seus discípulos: “Sentem-se aqui enquanto vou orar”. Para os discípulos não era algo incomum Jesus retirando-se para orar, sozinho. Muitas vezes O viram fazer isso. Neste momento, o coração de Jesus estava sedento da comunhão com seu Pai Celeste; Ele precisava com urgência sentir que não estava abandonado pelo Pai, uma vez que já sabia que ficaria só dentro de poucas horas. A grande maioria dos seus seguidores não havia captado o quanto seu mestre estava angustiado.
Assim, Jesus se afastou do grupo que, provavelmente na entrada da caverna, havia se instalado para o merecido descanso. O dia havia sido longo, começando com a procura do local para a ceia pascal, os preparativos em si e depois a demorada ceia com as sinistras previsões de uma possível traição. As palavras de despedida haviam deixado o grupo confuso. (33) Levou consigo Pedro, Tiago e João, e começou a ficar aflito e angustiado. Relatórios posteriores, assim como o Evangelho de João, não mais mencionaram o tamanho de aflição e da angústia pela qual Jesus passava, com medo de, com isso, diminuir a Glória do Senhor. Jesus precisava da comunhão não só com Deus; Ele procurou também a proximidade dos três discípulos principais, nos quais Ele mais confiava. Estes se tornaram testemunhas oculares da agonia que havia tomado conta do seu Mestre.
A vontade do Pai, durante os três anos de ministério sempre procurada e cumprida, a esta altura exigiu alguma coisa a mais, algo que Jesus ainda não conhecia. O doador da vida, Cristo, do qual a morte e as doenças haviam fugido tantas vezes durante seu ministério, ao qual a morte não tinha direito adquirido, entendeu que chegou a hora de dar a sua vida pelas vidas de seus amigos. (34) E lhes disse: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem”. (35) Indo um pouco mais adiante, prostrou-se e orava para que, se possível, fosse afastada dele aquela hora. Os três observavam como Jesus se afastou um pouco e, ao contrário do costume judeu de orar com mãos erguidas, caindo no chão e “prostrado em terra” começou clamar com voz alta. Por algum tempo O escutaram, mas logo o cansaço os venceu.

Já houve perguntas e escândalos pelo fato do Filho de Deus, tendo dado há muito tempo seu “sim” aos caminhos do Pai, ter caído em tal angústia e pavor perante a morte. Apontaram para pessoas que, a contrário de Jesus, a enfrentaram com serenidade, como Sócrates, por exemplo. Quem olha o episódio de Getsêmani desse ângulo, não tem compreendido o sentido da história da Salvação. Deus veio em carne (“incarnatus est”). A luta do homem-Deus era, mas não unicamente, contra a morte física. Jesus estava sendo afligido porque procurava da parte do Pai a confirmação de que essa sua morte não seria em vão. Enquanto o teólogo Paulo mais tarde compreendeu pelo Espírito Santo que em Jesus o sacrifício perfeito foi realizado, justificando os homens de uma vez para todas, fazendo desnecessário outros sacrifícios, para Jesus, essa certeza ainda era fé, obediência aos caminhos do Pai. Até então, Jesus nunca havia questionado a vontade do Pai para com Ele. Agora, porém, frente à morte, o pavor era natural pois Jesus era tanto homem e sofreu a morte como tal, quanto Deus, que, em pessoa, fora julgado, rejeitado e sacrificado. Essa compreensão dupla fez Jesus tremer. (36) E dizia: “Abba,Pai, tudo te é possível. Afaste de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres”. Como homem, era pesado demais cumprir a profecia que Jesus bem conhecia (leia Isaías cap. 53). Dentro de poucos minutos poderia alcançar o cume do monte das Oliveiras e desaparecer na escuridão, quem sabe, para depois tentar outro começo. A tentação era grande, mas outra vez Jesus decidiu em favor da obediência ao Pai.
(37) Então, voltou aos seus discípulos e os encontrou dormindo. “Simão”, disse Ele a Pedro, “você está dormindo? Não pode vigiar nem por uma hora”? Somente Marcos nos traz a pergunta amarga de Jesus a Pedro tão direta: “Simão, tu dormes? Não podes vigiar comigo nem por uma hora?” Pedro nunca a esqueceu. (38) Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O Espírito está pronto, mas a carne é fraca.” Jesus viu o perigo até por parte de seus seguidores. Vigiem! E como para justificar o pavor que Ele mesmo sentia, confessou (parafraseado): “meu espírito está pronto, mas eu sou fraco, preciso de sua ajuda e companhia!”. (39) Mais uma vez Ele se afastou e orou, repetindo as mesmas palavras. (40) Quando voltou, de novo os encontrou dormindo, porque seus olhos estavam pesados. Eles não sabiam o que lhe dizer. Após outra vez derramar seu coração perante seu Pai, encontrava seus discípulos cochilando e, quando os chamou, estes não sabiam nem justificar seu comportamento. Estavam simplesmente exaustos e sonolentos demais para notar o que se passava.
(41) Voltando pela terceira vez, Ele lhes disse: “Vocês ainda dormem e descansam? Não sabemos por quanto tempo Jesus orou. Suas palavras, quando voltou pela terceira vez, revelaram decepção e aceitação do fato ao mesmo tempo. O mestre agora lhes pareceu diferente: seguro e decidido. Exortou seus amigos sonolentos a se levantarem: Basta! Chegou a hora! Eis que o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. (42) Levantem-se e vamos! Aí vem aquele que me trai!” Na conversa com Seu Pai havia recebido força e confirmação para o seu caminho. Ainda enquanto falava, ouviu barulho de gente, viu luzes trêmulas de tochas acesas iluminando o bosque. Na entrada da caverna Jesus ficou esperando pela chegada da turba barulhenta que se aproximou. Só uma pessoa podia saber onde Jesus se encontrava a essa hora: Judas, aquele que saiu durante a ceia e desapareceu na noite (João 13.30).
DEUS OS ABENÇOE!