terça-feira, dezembro 26, 2006

CELEBRANDO A NOVA ALIANÇA NO NATAL

O Natal não é apenas o nascimento de Jesus. Pensar nele assim é limitar o seu real significado. Quando Cristo nasceu, ele inaugurou a nova Aliança, e se fez o nosso representante diante do Pai, como Mediador deste Pacto da graça. O Redentor é o cumprimento das promessas do Antigo Testamento. Desde o Jardim do Éden, o nascimento do Filho de Deus é ansiado (Gn 3:15). Ao decorrer de toda a antiga Aliança foram acrescentadas novas promessas e profecias descrevendo com detalhes como o Salvador se manifestaria no mundo, reconciliando pecadores com o santo Deus. Por isso, Ele é chamado de Cristo [do hebraico mashiah: que significa prometido].Hoje podemos olhar para o passado e visualizar toda a obra da redenção consumada. Por isso, não devemos nos limitar a comemorar somente o nascimento de Cristo, mas podemos nos alegrar com toda a salvação realizada por Ele. A sua encarnação apenas inaugurou todo o processo que culminaria na Sua vergonhosa morte na cruz (Fp 2:5-11; 2 Co 5:18-21).A verdadeira celebração começa na conversão. Não é possível festejar o nascimento de Cristo sem passarmos por um novo nascimento (Jo 3:3-15). Não é possível comemorar o nascimento do Salvador, vivendo escravo do pecado, sob a ira de Deus, desprezando a graciosa salvação. Cristo veio precisamente para perdoar e salvar o que estava perdido (Lc 15).O verdadeiro sentido natalino somente se tornará real, quando você entender que “se confessarmos os nossos pecados, Ele [Cristo] é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça” (1 Jo 1:9). Se não tivermos dado boas vindas a Cristo em nosso coração, não temos a alegria da salvação, e conseqüentemente, o Natal será apenas comida e bebida, mas não haverá “justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14:17). Abençoadas festas celebrando a Aliança do Senhor contigo, em Cristo Jesus o Mediador.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

O PERIGO DO ORGULHO

Orgulho é a disposição de mostrarmos uma condição superior àquilo que realmente somos. Por mais capazes que sejamos, nunca poderemos nos esquecer que Deus nos faz servos. Por isso, no Antigo Testamento a palavra hebraica para orgulho realça a altivez ilusória da pecador, e no Novo Testamento, a palavra grega refere-se ao engano de olhar por cima dos demais, considerando-se superior aos outros. Em nossa cultura também expressamos esta verdade ilustrada pelo provérbio: fulano pensa que está por cima da carne seca.O orgulho tem variadas formas de sinônimos. Pode ser chamado de arrogância, presunção, altivez, insolência, ostentação, pedantismo e soberba. Embora, haja variação no uso de cada um destes verbetes, mas a causa, a raíz, o desenvolvimento e o resultado sempre serão os mesmos.Esta disposição transforma-se em pensamentos, motivações, sentimentos e finalmente atitudes. É interessante como este pecado é tão comum em todo ser humano, e ao mesmo tão prazeiroso, e tão difícil de ser reconhecido em si mesmo. Mas, é precisamente por causa do próprio orgulho, é que ele se esconde, somos motivados pelo sentimento de auto-preservação. O orgulho é sujo demais para aparecer manchando a nossa tão ilustre imagem!O orgulho conduz e induz à outros pecados. Por exemplo, a auto-suficiência faz com que neguemos a necessidade da mutualidade [uns aos outros]; a competividade gera desprezo pela superioridade e excelência do outro, produzindo em nós inveja do seu desempenho, ou prosperidade; o engano de sermos superiores nos ilude em ostentar um status e valores que realmente são vaidade; o próprio saber perde o seu propósito produtivo tornando-se em pedantismo; e a lista não termina...Mas, o orgulho de cada um compete com a soberba dos demais. Outro ditado diz que dois bicudos não se beijam. Responda com sinceridade às seguintes perguntas de auto-avaliação: 1) o quanto me desagrada ser desprezado?; 2) sinto-me ofendido quando recusam dar-me atenção?; 3) qual a minha reação quando um orgulhoso se aproxima de mim, ostentando a sua própria soberba?; 4) aceito que outras pessoas [confiáveis] se intrometam na minha vida [prática da mutualidade]?Geralmente as pessoas não percebem, mas o orgulho pode ser um estímulo para derrotar pecados mais simples. No impulso do orgulho "ferido" o covarde reage! Para não ser desprezado é possível dominar, sem mudar, o mau gênio. Com medo do escândalo algumas pessoas evitam uma vida de promiscuidade, mas quando estão seguras entre estranhos se soltam e fazem aquilo que realmente são. Por fim, o orgulho pode ser a motivação para a vaidade, mas também o inibidor dela. O real problema é que o orgulho não aperfeiçoa a pessoa, apenas produz uma maquiagem temporária, para que o soberbo não entre em prejuízo nos seus interesses pessoais.O resultado final do pecado que ostenta, e que nos ilude com uma pseudo-elevação [altivez] será uma desgraçada queda. Os efeitos do orgulho são: engano do coração [Jr 49:16]; endurecimento da mente para a verdade [Dn 5:20]; produção da inimizade [Pv 13:10]; leva à auto-destruição [Pv 16:18; 2 Sm 17:23]; esgota as energias, porque o esforço de manter o orgulho é demasiado difícil para ostentá-lo de forma permanente [Sl 131]. A Palavra de Deus diz que ele resite ao soberbo [Tg 4:6].A cura para o orgulho não está na maturidade obtida com os anos. Não é o acúmulo de conhecimento, ou de experiências que lhe habilitará vencer o seu orgulho, mas apenas o quebrantamento produzido pelo Espírito do Senhor. A Escritura Sagrada ordena-nos humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará [Tg 4:10].
QUE DEUS NOS ABENÇOE !

segunda-feira, dezembro 18, 2006

OS TREIS ENCONTROS


O texto para nossa reflexão encontra-se em João, capítulo 9; é chamado de “A Cura do Cego de Nascença”, mas bem poderia ser conhecido como “Os 3 Encontros com Jesus”.
O primeiro deles foi um encontro prático. Foi a curiosidade dos discípulos que encaminhou este encontro. Em Israel e, mesmo fora dele, sempre se imaginou uma relação de causa-e-efeito muito simplista; de duas, uma: este homem era cego por causa do seu próprio pecado, ou por causa do pecado de seus pais. Jesus rompeu com este modo de pensar e afirmou: “nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (v. 3). Ato contínuo, fez lodo com terra e saliva, aplicou aos olhos do cego, que se dirigiu ao Tanque Siloé. Resultado? O resultado é que ele passou a enxergar.
Literalmente, sua vida se transformou num piscar de olhos. Agora poderia ver as pessoas, distinguí-las, observar a natureza, encantar-se com as cores. Um novo mundo se abria para ele. Além de cego, era um mendigo. Doravante, poderia ter uma digna ocupação. Realmente, este encontro foi muito prático e vantajoso para o cego, cujo nome nem sabemos. Porém, isto não significou verdadeiro e profundo encontro com Cristo. Quando perguntado a respeito de quem havia operado este milagre, ele, apenas, responde que nem sabia onde ele se encontrava (v. 12).
Muitos têm um encontro desta natureza com o Senhor Deus. Trata-se de um encontro que resolve problemas, geralmente do tipo saúde, dinheiro, vida afetiva e coisas semelhantes. Mas não passa disto. Neste caso, Jesus é um grande “quebra-galhos”.
Surpreendentemente, o que fora cego, agora se vê diante da iminência de um 2º encontro com Cristo, que nós vamos chamadar de encontro religioso. Na verdade, nem foi um encontro pessoal com Cristo. Mas sem o querer, ele se viu num grande debate teológico e doutrinário a respeito de Cristo, a ponto de fazer um pronunciamento que calou os fariseus (v. 13-34).
Encontros como este, também, são muito comuns. Do contrário, não existiriam tantas igrejas, para tantos gostos. Basta uma ligeira discordância e, repentinamente, surge um novo grupo. E os que militam nesta vertente podem fazer prolongados discursos sobre o seu ponto de vista, sem que isto se reflita numa mudança radical de vida.Finalmente, vamos observar o 3º e definitivo encontro com Cristo. Poderíamos chamá-lo de encontro de salvação, de redenção, mas o próprio texto sugere um termo mais simples. Foi o encontro da fé. Neste momento, Jesus aborda o que fora cego com a seguinte questão: “crês tu no Filho do homem?” (v. 35); ao que ele indaga: “e quem é ele para que eu deposite a minha confiança nele?” (v. 36). Neste ponto, Jesus se revela de modo bem claro: “já o tens visto e é o que fala contigo”. A resposta definitiva vem nesta simples expressão: “creio, Senhor” (v. 38).
O objeto de nossa fé não são as circunstâncias: se positivas, então, cremos, caso contrário, não podemos professar tal fé. Não direcionamos a nossa fé a pessoas ou instituições. Nossa fé está posta no Senhor Jesus, haja o que houver. Tal fé vai provocar uma atitude de constante adoração a Jesus (v. 38) e um caminho sempre iluminado (v. 39-41), pelo qual devemos andar.
Que encontros já tivemos com Cristo? Em qual encontro nos achamos estacionados? É mister avançar para o pleno e decisivo encontro, que salva e redime e nos faz andar em novidade de vida, para a honra e a glória do nosso Deus.
QUE DEUS NOS ABENÇOE !

quinta-feira, dezembro 14, 2006

SE TODOS OS DIAS FOSSEM COMO O NATAL

"A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria”. (Mt 2.10)

Imagino a sensação daqueles magos ao contemplarem a estrela que apontava para o oriente, onde algo de extraordinário havia acontecido, e que mudaria a história. A recomendação do rei Herodes Antipas era para que eles fossem até o local onde estava o menino, o reconhecessem e depois voltassem com as indicativas do caminho para que, posteriormente, ele também pudesse ir e “adorá-lo” (Mt. 2:8). Mas a estrela parece ter “aberto os olhos” daqueles magos em todos os sentidos: quanto aos intentos malévolos de Herodes (o que na verdade foi-lhes revelado em sonho), para uma realidade maravilhosa que estava por vir, jamais antes experimentada pela humanidade, para o próprio Deus encarnado em uma criança recém-nascida. Naquele momento parece ter havido uma mudança de sentido, uma conversão de motivações e emoções. A curiosidade transformou-se em certeza, e o vazio foi preenchido por uma “profunda alegria”.Natal é tempo de mutações. Não apenas as cidades ficam mais bonitas e coloridas, com suas agitações típicas e decorações peculiares, mas o comportamento das pessoas também parece mudar. Ainda que por pouco tempo, a fraternidade substitui o individualismo, a solidariedade toma o posto da indiferença, a superficialidade e fugacidade que marcam a vida nos grandes centros dão lugar à generosidade, à compreensão e ao amor. “Reconciliação” seria a palavra exata para expressar tudo o que estou dizendo. Não seria este o “espírito do natal” de que tanto se fala? Ora, não me refiro aqui ao “espírito” consumista que contagia as pessoas nesta época, nem tampouco aos presentes, árvore de natal ou Papai Noel. É inegável que tudo isso influencia e muito. Mas ao que verdadeiramente faz do natal um tempo diferente: Jesus.Ah, e se todos os dias fossem como o natal? Se Jesus deixasse de ser apenas um símbolo guardado na memória, de quem nos lembramos por conveniência, como quem tira um coelho da cartola, apenas em datas comemorativas do calendário “cristão”, passando a ser o referencial de vida de todas as pessoas que o apontam como o “verdadeiro sentido do natal”, todos os dias do ano? Então poderíamos finalmente viver o natal como é para ser vivido, todos os dias, como um interminável “tempo de bençãos”, como uma estrela sempre presente no céu a brilhar, nos lembrando de que o Emanuel permanece conosco, enchendo-nos de paz e alegria, transformando-nos para que transformemos este mundo, e produzamos frutos “dignos de arrependimento”, trazendo de volta à vida aqueles a quem Ele quer bem.

LÂMPADAS ACESAS

“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 5:16).

Já estamos no mês de dezembro, época em que as residências, os centros comerciais e as ruas estão decorados com motivos natalinos. Em meio a tantos enfeites, o que mais sobressai são as luzes: pisca-piscas, estrelas, velas, dentre outros objetos que podem ser apreciados, mesmo a distância. São emissores de iluminação artificial, que podem ser ligados ou desligados com um simples toque no botão. É um atrativo que enche os nossos olhos, podendo até nos causar um certo impacto emocional, mas que não se estende por mais que um mês; afinal o mês de janeiro já está ali, para mostrar que um novo ano de lutas começará. De qualquer forma, tais luzes são muito bonitas de se ver, mas se restringem aos nossos olhos, não tendo nenhum poder para mudar nossas atitudes.O Natal ficaria mais bonito se as luzes internas das pessoas estivessem mais ofuscantes que as luzes externas, se o foco estivesse em servir Deus e ao próximo e não ficar esperando ser servido por eles; se as pessoas não se importassem em fazer algo para receber elogios, mas sim que tivessem prazer em satisfazer as necessidades dos outros, mesmo não recebendo absolutamente nada em troca. O amor pregado por Jesus é aquele que nos leva a tomar a iniciativa de sermos luz no mundo, independentemente do retorno que venhamos a ter.
Também aniquilaríamos a hipocrisia se as nossas lâmpadas internas permanecessem acesas durante todo o ano, expressando com autoridade o nosso título de Filhos de Deus. Sendo frios ou mornos (Ap. 3:15-16), instáveis entre a vontade de Deus e os desejos da carne, não há como as pessoas reconhecerem o Natal dentro de nós. Jesus não comemora seu nascimento para sair de cena logo em seguida. Ele vem para ficar e exige que seus filhos participem do seu Reino ativamente, o tempo todo. Não dá para buscarmos uma “purificação espiritual”, no mês em que a solidariedade aflora em muitas comunidades do mundo, e logo em seguida apagarmos nossas lâmpadas internas e aguardarmos até o fim do próximo ano.
É tempo de verificar o estado de nossas lâmpadas internas, de ver se estão queimadas ou se apenas é necessário apertar o botão para acendê-las. É hora de buscar, em Deus, a iluminação do nosso interior para que possamos de fato iluminar o exterior. Deus quer tratar o nosso caráter cristão, quer ver nossa mudança de atitudes. E não somente no mês de dezembro, afinal, Deus e nosso próximo contam conosco por todo o ano.

QUE DEUS NOS ABENÇOE !


terça-feira, dezembro 12, 2006

O MENINO E A MANJEDOURA

Quando lemos na palavra de Deus sobre o nascimento do Rei da Glória, Jesus Cristo nos deparamos com um paradoxo: O Senhor da Vida nasce e descansa, envolto em panos, numa simples manjedoura. Aquele que tudo criou descansa agora não em um berço de ouro situado em um quarto imenso e de luxo, mas em um local utilizado para colocarem alimento para animais, uma manjedoura de madeira.
Qual é o significado do menino Jesus descansando naquela manjedoura? O significado é maravilhoso demais para todos nós. A humanidade toda deveria ser alcançada com a mensagem do Natal de Cristo. Deus vem até nós em Jesus e nos encontra em nossa realidade. Esse é o grande significado daquele menino na manjedoura: Deus vem ao nosso encontro, onde estamos, no nosso dia a dia, em meio as nossas dores, sofrimentos, angústias, desprezo, injustiças, tudo isso para nos redimir e nos comprar para si.
Deus, em Jesus, não vem para uma humanidade utópica, idealizada, mas para homens e mulheres reais. É numa manjedoura de madeira que ele nos encontra e não em um berço de ouro. A realidade da humanidade não está no engano do luxo ou daquelas coisas que possam desviar nossas mentes do fato real de que todos precisam desesperadamente de Deus. Desde o seu nascimento Jesus nos revela um Deus que entra em nossa realidade de dor e sofrimento para nos levar para a sua realidade de vida abundante, plena e eterna.Jesus começa sua vida na manjedoura de madeira e, no fim, a entrega ao Pai também pendurado no madeiro, na cruz. Ele nos revela um Deus que se faz maldito, entrando na realidade dos malditos. Que se faz desprezado, entrando na realidade dos desprezados. Que sofre a injustiça dos injustiçados. Que chora a dor dos enfermos. Ele se fez maldito em nosso lugar para que fossemos dignificados pela nova vida ofertada em Cristo, ou seja, nossa adoção como filhos e filhas do Eterno.
A verdade é: o Deus de amor não poderia ter descansado em outro lugar a não ser naquela manjedoura. É lá que ele nos encontra com todas nossas feridas e dores e, dessa forma, com o seu toque abençoador, nos cura eternamente. A manjedoura já é o princípio da cruz, da humilhação do Deus que nos ama e quer nos salvar. A cruz, historicamente falando, não acontece simplesmente no Calvário, mas desde o nascimento daquele pequenino menino. O Natal representa o início histórico da nossa salvação.
A manjedoura em si não é nada mais do que um amontoado de madeira e pregos para alimentar os animais. Sua importância está naquele que nela descansou. Jesus, na sua simplicidade e humilhação, nos revela um Deus que nos ama verdadeiramente e está conosco em nossas lutas e tribulações. Nos Revela um Deus presente, conosco, o Emanuel. Ver, pela fé, aquele menino na manjedoura é ver, pela fé, Deus presente em nossas vidas.
Aquele menino na manjedoura está nos dizendo sem palavra alguma: enquanto vocês não provam da salvação plena de Deus eu estou convosco. Enquanto a morte, a dor, o sofrimento e a injustiça não se tornam passado, ou seja, deixam de existir eternamente, Deus está com vocês, na sua realidade. Hoje o nosso coração é a manjedoura onde o menino Jesus quer descansar para assim nos trazer a paz e a vida de Deus. Talvez você pense: meu coração não é digno de receber esse menino. A resposta de Jesus a você é: aquela manjedoura também não era digna de mim, mas por amor a você descansei nela. Fiz isso para te trazer para perto de mim. A manjedoura do seu coração, certamente, não é perfeita nem digna de mim também, mas quero descansar nela para estar perto de você e você de mim. Quero descansar no seu coração para te envolver com minha vida, amor e graça. Quero estar presente com você em suas alegrias e vitórias, mas também nas suas lutas e derrotas. Quero rir com você, mas também quero estar com você em seu choro e sofrimento. Enquanto a vitória da ressurreição não te alcança de forma plena, eu quero estar com você.
Essa é a mensagem do Filho de Deus que descansou naquela manjedoura. O mundo deve saber dessa história. Resta-me fazer-te ainda uma pergunta: o seu coração já é descanso para esse menino? Entregue seu coração a ele, deixe esse Deus maravilhoso que, na simplicidade da manjedoura, lhe diz: amo-te, quero ser o seu Deus e Salvador.

segunda-feira, dezembro 11, 2006


O MAIOR DOS DESAFIOS PARA A VIDA DO SER HUMANO
Mateus 6-19:21

INTRODUÇÃO
É natal! E daí? Alguém pode perguntar. “Um natal a mais, um natal a menos, que diferença isto faz?”
“Isto é apenas um motivo para aumentar a venda no comércio, não existe mais o verdadeiro sentido do natal”, pode alguém comentar.
O desafio para nós que cremos em Deus é resgatar o verdadeiro propósito do natal. É resgatar para os dias atuais, a verdadeira motivação que levou Deus a irromper na história da humanidade, para mudá-la, para transformá-la, dando a ela uma esperança concreta de salvação e redenção.

Natal é investir em vidas
Natal é crer e investir no Reino de Deus
Natal é deixar-se levar pelos valores divinos
Natal é descortinar um horizonte mais amplo do que aquele visto pelos olhos humanos
É sobre isto que eu quero falar a vocês nesta mensagem.

1. UMA HUMANIDADE EMPOBRECIDA PELO PECADO
- Estávamos mortos nos nossos delitos e pecados.
- Cada um se desviava pelo seu caminho.
- Não havia mais limites ou barreiras que o ser humano respeitasse.

2. UM DEUS RICO EXEMPLIFICA O AMOR
- 2 Co 8.9 - “Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que pela sua pobreza vos tornásseis ricos.”- Isaías 55. 7 - “O nosso Deus é rico em perdoar.”
- Efésios 2.4-5 - “Mas Deus sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo.”
- Aqui está a verdadeira história do Natal, que não tem sido contada: Um Deus rico empobrece-se a si mesmo para que a humanidade pudesse readquirir o verdadeiro propósito da vida.
Assim sendo, concluímos que NATAL é investir em vidas.

3. O NOSSO DESAFIO NÃO É SOMENTE REDESCOBRIR O SENTIDO DO NATAL, MAS IMITAR AQUELE QUE NOS DEU O NATAL.
- O texto lido aparentemente não tem nada a ver com o natal. Mero engano, pois ele resume tudo o que o Natal realmente é. Deixe-me ajudá-lo a entender isto numa breve análise destas palavras de Jesus.
( 1 ) Jesus menciona sobre somente dois lugares possíveis para ajuntar bens e riquezas: terra e céu.
- na terra, adverte ele, esses bens vão se acabar, pois eles são de natureza essencialmente perecíveis. É portanto um absurdo, no pensar de Jesus, que alguém ocupe toda a sua vida, energia, disposição, tempo, para acumular coisas que vão se acabar.
- no céu, ensina Jesus, os bens e tesouros acumulados não vão sofrer dos problemas que atingem os bens terrenos. Estes bens estão a espera dos seus donos.
( 2 ) Jesus ensina uma lição preciosa: onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. Lutero: Onde está o teu coração está o teu Deus. - Existe aqui uma ação/reação: Onde está o teu tesouro está o teu coração. Onde está o coração está o tesouro.
- Aqui está o real desafio do ser humano: descobrir para qual lugar (terra/céu) o coração se inclina e passar a investir naquele lugar.- Nós já vimos exemplo no próprio Deus: o seu coração estava comprometido com o ser humano, e ele investiu o seu único Filho para mostrar a seriedade do seu compromisso.

( a ) Conde Nícolas Zinzendorf ( 1700-1760 ) - Homem rico, formado em Direito, que vendo a necessidade de irmãos que eram perseguidos por causa da piedade, compra uma fazenda e a torna em lugar de refúgio. Os seguidores de Zinzendorf foram os mais ativos missionários que a história jamais conheceu, alguns deles se fizeram escravos para evangelizar os escravos.
( b ) Francisco de Assis ( 1761-1834 ) - Membro de uma família rica, vivendo frugalmente, até que tem uma experiência em Roma de viver por um dia como mendigo. Noutra ocasião abraçou um leproso. Mais tarde faz uma generosa oferta para reparar a igreja da sua cidade. Foi deserdado pelo pai. Funda a Ordem dos Franciscanos, levando até às ultimas conseqüências o voto de pobreza que assumiu.
( c ) William Carey ( 1761 - 1834 ) - Pregador e professor durante o dia, sapateiro durante a noite. Sem ir a escola aprendeu o Grego, Hebraico, Latim, Holandês e Francês. Desenhou o mapa do mundo em couros, apontando lugares onde os povos precisavam do evangelho. Em 1792 foi para a Índia, onde aprendeu o Sânscrito, Bengales, Marathi, Telugu e Botani. Foi instrumento em abolir o “sutee”, ritual Hindu que cremava a viuva junto com o caixão de enterro do marido.
- Estas pessoas se fizeram semelhantes a Deus e investiram naquilo que mais agrada a Deus - a redenção do ser humano.
- Elas ajuntaram tesouros no céu. E nós podemos imaginar a recepção que elas tiveram no reino celestial, quando puderam contemplar todas as pessoas que ouviram o evangelho através de algo que fizeram.

CONCLUSÃO
- Nós vivemos numa época sem precedentes na história da humanidade.
- Existe uma grande sede pela palavra do Senhor
- O que Deus quer agora é pessoas que entendam o que significa NATAL e invistam no reino.
- Onde está o teu tesouro aí estará também o teu coração.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

A FAMÍLIA

Um dos programas que gosto de assistir na televisão, em tempos de muita dificuldade para selecionar um bom programa, é “A Grande Família”, da Rede Globo. Me divirto muito com as dificuldades que eles criam nos relacionamentos, todos marcados por um tom de brincadeira. Isso não significa que aprovo todas as mensagens que nos transmitem, nem mesmo o padrão daquela família, mas não é muito divertido quando olhamos para a realidade de muitas famílias que não conseguem manter um nível de relacionamentos saudáveis em função de dificuldades financeiras, morar junto com os pais, os conflitos de geração, entre outros?Você já deve ter ouvido dizer que a família tem sofrido muitas mudanças e hoje já não temos um padrão definido do que vem a ser uma família.
Isso, para muitos, é sinônimo de amadurecimento e para outros é um sinal dos tempos, uma tragédia.Não sei qual é sua opinião, mas penso que é oportuno lembrar o conselho do Salmo 127.1:“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela”.Acredito que a cada geração, a família está ficando mais isolada, os seus membros estão ficando mais distantes um do outro, os interesses estão mais individualizados e até mesmo Deus não tem sido convidado para ajudar na edificação do lar. Talvez aí encontremos uma resposta para tantos modelos de “famílias” que surgem de acordo com o que cada um pensa ser o melhor para si.
Nós, como igreja, ainda acreditamos na família constituída por duas pessoas de sexo oposto que se amam, que geram seus filhos/as e que buscam na Palavra de Deus orientações para uma convivência saudável um com o outro, com a sociedade e com Deus. Cremos que na fé revelada desde os dias de Abraão poderão ser benditas todas as famílias da terra.
QUE DEUS O ABENÇOE !

quinta-feira, dezembro 07, 2006

EU AS MINHAS LEIS



Deus deu a Lei a Moisés. Mas todo homem tem suas próprias leis.

Paulo diz que a Lei é, em si, boa. Sendo preocupante apenas para os transgressores.

No entanto, ele mesmo diz que todos somos transgressores da Lei de Deus, ainda que alguns de nós sejamos irrepreensíveis perante a lei dos homens.

As leis do homem são as piores leis, mas são cheias de justiça própria. E aqui não me refiro aos Códigos Penais, mas sim às leis interiores que todos temos.

Tais leis se manifestam sob os mantos de afirmações como “eu sou assim”; ou, mais sofisticadamente, “esta é minha constituição”.

Assim guerreia o homem contra Deus, e diz que a Lei de Deus é ruim, enquanto pratica suas próprias leis.

Deus diz: “Eu sou o Senhor teu Deus...” O homem diz: “Eu existo!”

Deus diz: “Não farás para ti imagens de escultura”. O homem diz: “Eu sou a minha imagem!”

Deus diz: “Descansa no sétimo dia”. O homem diz: “Meu descanso é meu!”

Deus diz: “Não tomes meu nome em vão!” O homem diz: “Meu nome é tudo o que tenho!”

Deus diz: “Honra teu pai e mãe!” O homem diz: “Sou honrado!”

Deus diz: “Não matarás!” O homem diz: “Pelo meu nome e honra, eu mato!”

Deus diz: “Não darás falso testemunho!” O homem diz: “Eu digo o que eu quero!”


Deus diz: “Não adulterarás!” O homem diz: “Eu me apaixonei!”

Deus diz: “Não cobiçarás!” O homem diz: “Eu tenho o direito de ter!”


Sim, no curso de minha existência fui percebendo que as piores leis eram e são as minhas. De súbito, um dia meus olhos se abriram, e eu vi o quão cheio de leis eu era e sou. Só que tais leis minhas, não são leis de vida, mas de morte. Eu as chamo de coragem, de dignidade, de altivez, de honra, de autenticidade, de intrepidez, de transparência, de vergonha na cara, de direitos pessoais, de “sangue nas veias”, de “não tenho sangue de barata”, ou de “sou filho do meu pai”.

Ora, é por tais leis que eu já briguei, já ataquei, já encarei, já me fiz homem, já me mostrei macho, já fiz o que quis, já exerci meu direito de ser eu mesmo; sempre provando que existo, mas sempre também trabalhando contra a minha própria vida, no ato de ser fiel às minhas próprias leis.

Assim, se ainda não fomos capazes de deixar para trás a Lei de Moisés, a qual já não é Lei para a vida, mas apenas para a morte, para a culpa, e ou para a hipocrisia das aparências — tendo sido abolida como meio e tentativa de salvação, na Cruz —; como seremos capazes de abdicar de nossas próprias leis?

Chamamos essas leis de “minha personalidade”, de “meu temperamento”, de “meu jeito de ser”, de “meu caráter”, de “minha verdade”, ou, ainda, de “minhas virtudes”.

Porém, todas elas, na maioria das vezes, são apenas as fortalezas de nossa inconversibilidade.

Nossas leis, na melhor versão delas, contém sempre o famoso “olho por olho e dente por dente”. É por essa razão que, emocional, psicológica e espiritualmente, estamos quase todos cegos e banguelas.

Sim, geralmente são essas nossas leis que nos impedem de experimentar a conversão de nosso ser como transformação cotidiana de nosso entendimento à razão de Deus, que é o Evangelho.

“Negar a si mesmo” é abdicar dessas leis.

“Tomar a sua cruz” é render-se ao entendimento do Evangelho.

E “siga-me” é apenas “siga-me” mesmo.

O caminho do discípulo não começa jamais antes dessa persuasão tomar conta de seu coração.
QUE DEUS O ABENÇOE !

quarta-feira, dezembro 06, 2006

O NATAL ESTÁ CHEGANDO

As luzes coloridas da cidade apontam para a chegada de mais um natal. A rotina das festas está para começar. A lista de presentes, o cardápio do banquete natalino, o roteiro das festas e viagens. Parece que todo ano é sempre a mesma coisa e que todos os natais são iguais. O que poderíamos fazer para tornar este natal diferente? Que alternativas temos para celebrar o nascimento de Cristo de forma significativa e profunda? Algumas propostas para a celebração do natal:

1. Faça uma lista de várias bênçãos que você recebeu de Deus durante o ano de 2006. Enumere algumas delas.

2. Reúna neste natal as pessoas que você gosta e faça das celebrações um momento de louvor e gratidão a Deus. Conte para essas pessoas as bênçãos que você recebeu do Pai Amado.

3. Compartilhe com quem não tem nada alguma das muitas coisas que você tem. Tanto pode ser algo material como também um abraço, uma oração.

4. Convide alguma pessoa que não tem família em Londrina para passar algumas horas com você.

5. Compre um presente para uma criança carente e reparta um pouco de alegria com estes pequeninos.

Certamente você deve ter outras idéias para este natal, todavia, a minha sugestão é que você não faça do natal uma festa que não tenha nenhuma semelhança com o natal de Cristo. Você deve estar lembrado que o primeiro natal teve início numa manjedoura muito simples e que foi ali que o Salvador do mundo nasceu. Ele não nasceu em nenhum palácio e nenhuma grande festa foi dada em honra ao Rei que nascia. Natal é Cristo em nós, a esperança da glória. Este é o desafio que temos para refletir durante o mês de dezembro: abrir o coração e permitir que a paz de Deus controle todo o nosso ser e que não sejamos engodados pela luxúria deste mundo.

terça-feira, dezembro 05, 2006

JESUS ENTRE OS AMEDRONTADOS


Já estamos vivendo, neste último mês do ano, no clima do Natal quando celebramos o grande evento da encarnação, assim resumido por João, o evangelista: "A Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós, cheia de amor e de verdade"(João 1.14 - NTLH).

O Filho de Deus, Verbo feito carne, mesmo depois da sua morte não nos deixou órfãos, mas veio, com o Pai, habitar no coração de cada um de nós através do Espírito Santo. Dessa forma ele cumpre a promessa de estar conosco todos os dias até o fim dos tempos. Isto significa que ele está entre nós em qualquer situação.
No domingo da ressurreição, à tarde, os discípulos estavam reunidos de portas trancadas, com medo dos líderes judeus, quando Jesus colocou-se entre eles e disse: "que a paz esteja com vocês" (João 20.19 - NTLH). Esses discípulos estavam perplexos diante de tudo o que havia acontecido. Eles esperavam que Jesus fosse o Messias que devia restaurar o reino de Israel, mas o Mestre havia sido preso, torturado, morto e sepultado. Apesar das predições, tinham dificuldade para acreditar na ressurreição. Daí a razão da perplexidade, do desânimo, do desencanto, do medo.
O texto de João 20.19-22 mostra como a consciência da presença de Jesus entre eles trouxe paz (20.19), alegria (20.20), propósito através da missão (20.21) e dinâmica (20.22). Fortalecidos pela presença, palavras e ações de Jesus, eles permaneceram em Jerusalém até que foram revestidos com o poder do alto (Lucas 24.49, Atos 1.4-5, 2.1-4).
A partir do Pentecoste, todos os que crêem são batizados, em um só Espírito, no corpo de Cristo, e passam a desfrutar a presença de Jesus não só em seus corações, mas na comunhão dos santos. Jesus está em cada um de nós e entre nós. A consciência da presença permanente de Jesus destrói todo o medo e nos traz paz, alegria, vida com propósito e poder para uma vida abundante e vitoriosa.

UMA ANALISE DAS CARACTERISTICAS DA VERDADEIRA IGREJA

Onde pode ser encontrada hoje a igreja verdadeira e quais os seus aspectos essenciais? Em primeiro lugar devemos distinguir os vários significados da palavra igreja:Todo o povo de Deus em todos os séculos, o conjunto total dos eleitos. Os Reformadores falaram disto como sendo a igreja invisível.A comunidade local dos cristãos, reunidos visivelmente para adoração e ministério; este significado abrange a vasta maioria das referências à igreja (ekklesia) do Novo Testamento.Todo o povo de Deus no mundo, em determinada época, talvez melhor definida como a igreja universal. Esse sentido ocorre apenas ocasionalmente no Novo Testamento (1 Co 10.32; Gl 1.13).
"A igreja dentro da igreja". Notamos antes a distinção feita entre a edah (toda a congregação visível) e os gahal (aqueles dentro dela que respondem ao chamado de Deus). Jesus ensinou que o reino corresponde a este padrão: o joio está misturado com o trigo (Mt 13.24-30; 36-43). Dentro do grupo identificado com Cristo acha-se o povo de Deus, a verdadeira igreja. Não existe, então, uma igreja pura; em meio a cada igreja pode haver pessoas que não professaram a sua fé e outras cuja profissão será desmascarada no último dia (Mt 7.21-23).
Admitindo-se assim que uma igreja pura ou perfeita não é possível deste lado da glória, onde podemos descobrir o verdadeiro povo de Deus visivelmente reunido? Tradicionalmente, são reconhecidos quatro sinais da igreja autêntica.

UNA
A unidade da igreja procede de seu fundamento do único Deus (Ef 4.1-6). Todos os que pertencem verdadeiramente à igreja são um só povo e, portanto, a igreja verdadeira será distinguida por sua unidade.
Esta unidade, porém, não implica necessariamente uniformidade total. Na igreja do Novo Testamento havia uma variedade de ministérios (1 Co 12.4-6) e de opiniões sobre assuntos de importância secundária (Rm 14:1-15:13). Embora houvesse uniformidade nas convicções teológicas básicas (1 Co 15.11, BLH; Jd 3), a fé comum recebia ênfases diversas, segundo as diferentes necessidades percebidas pelos apóstolos (Rm 3.20; cf. Tg 2.24; Fp 2.5-7; cf. Cl 2.9s).
Havia também uma variedade de formas de adoração. O tipo de culto em Corinto (1 Co 14.26ss) não era comum nas igrejas palestinas, onde a adoração se baseava no modelo da sinagoga judaica e tinha um padrão mais formal, centrado na exposição da palavra escrita. Este modelo tirado da sinagoga justifica o fato de as igrejas do primeiro século serem consideradas um ramo do judaísmo. Tiago 2.2 usa até mesmo a palavra sinagoga para a reunião dos cristãos. Existem também elementos discerníveis de mais de uma forma de governo da igreja.
A verdadeira unidade no Espírito Santo de todo o povo regenerado é um fato independente da desunião denominacional exterior. O chamado para a unidade no Novo Testamento é, portanto, uma ordem para manter a unicidade fundamental da vida que o Espírito concedeu através da regeneração (Ef 4.3). Os Reformadores salientaram este ponto, distinguindo entre a igreja invisível (todos os eleitos que são verdadeiramente um em Cristo) e a igreja visível (um grupo misto de regenerados e não-regenerados). A unidade da igreja invisível é um fato consumado, concedido com a salvação.
Roma tem usado este sinal de maneira polêmica, a fim de proclamar sua unidade, comparando-a à fragmentação do protestantismo, como uma evidência de ser a verdadeira igreja. Isto, no entanto, ignora três pontos: (i) A própria Roma separou-se da igreja ortodoxa em 1054, e jamais tinha sido considerada universalmente como a única igreja verdadeira em séculos anteriores; por exemplo, a igreja celta floresceu na Inglaterra, e Patrício fundou a igreja inglesa muito antes de os missionários romanos terem chegado a Inglaterra. (ii) Os sinais devem manter-se juntos. A sucessão histórica e a unidade exterior não têm validade quando não associadas à lealdade e ao evangelho apostólico. (iii) Embora o protestantismo tenha-se mostrado às vezes necessariamente desagregador, pode ser argumentado que, através de seu desvio da doutrina bíblica, é a própria Roma que tem sido a maior causa de cismas no correr dos séculos.
As Escrituras encorajam a mais plena expressão de unidade possível entre o povo de Deus, mas elas também tornam claro que a divisão acha-se perfeitamente de acordo com a vontade divina quando a essência do Cristianismo Apostólico estiver em risco. Esta foi a razão da discórdia entre Paulo e os judaizantes (Gl 1.6-12), e entre Jesus e os fariseus (Mc 7.1-13). É significativo notar que quando Judas pretendeu escrever sobre a salvação que temos em comum, ele achou necessário insistir com os leitores para "batalhar diligentemente pela fé que uma vez foi entregue aos santos" (Judas 3). Para o Novo Testamento, a unidade está baseada em um compromisso consciente com as verdades reveladas do Cristianismo Apostólico.
O Novo Testamento dirigiu seus ensinos sobre a unidade a grupos específicos, com implicações imediatas para seus relacionamentos visíveis (Ef 2.15; 4.4; Cl 3.15). Jesus orou pela unidade, que ajudaria o mundo a crer (João 17.21); embora o paralelo entre esta unidade e a dEle com o Pai (17.11,22) confirme o caráter essencialmente espiritual da unidade bíblica, esta certamente inclui identificação visível de vida e propósito, pois Jesus em toda a sua missão expressou uma união visível e demonstrável com o Pai. Em outras palavras, é preciso buscar uma unidade visível mais plena do que aquela que está sendo experimentada pelos que são fiéis ao evangelho apostólico.
Este fato tem especial importância quando dois ou mais grupos que têm uma fé bíblica estiverem operando na mesma área, como, por exemplo, em um campus universitário. O desafio mais profundo deste ensinamento, porém, situa-se ao nível dos relacionamentos na igreja local. Nesse ambiente, a unidade da vida em Cristo deve expressar-se através do cuidado e compromisso genuínos e tangíveis de uns para com os outros. Na ausência disto, a reivindicação de ser uma verdadeira igreja cristã é posta em dúvida (1 Co 3.3s).

SANTA
O povo de Deus forma a nação santa (1 Pe 2.9). No sentido mais profundo a igreja é santa, da mesma forma que todo indivíduo cristão é santo em virtude de estar unido a Cristo, separado para ele e revestido com sua justiça perfeita. Na sua posição diante de Deus em Cristo, a igreja é irrepreensível e isenta de qualquer mancha moral. A distinção entre a igreja visível e a invisível aplica-se aqui, desde que esta santidade imputada não pertence aos membros da igreja não confiam pessoalmente em Cristo como Salvador.
A união com Cristo envolve também uma santidade de vida que seja visível. Desse modo, a relação da igreja com Cristo, o seu cabeça, será expressa no caráter moral e nas características especiais de sua vida e de seus relacionamentos comunitários. A igreja alheia à santidade é alheia a Cristo. Quando Cristo dirigiu-se à sua igreja, ele esperava dela essa mesma diferença moral e foi severo em seu julgamento quando observou que ela lhes faltava (Ap 2.-3).
A fim de não desanimarmos ao aplicar este teste, vale a pena lembrar que grande parte da vida da igreja do Novo Testamento foi eivada de erros, divisões, falhas morais e instabilidade. Não obstante, a presença de um sinal visível de santidade é uma característica invariável da igreja de Deus.

CATÓLICA
O termo católico significa literalmente abrangendo ao todo. E em seu uso primitivo, significava ser a igreja universal, distinguindo-a da local; mais tarde, veio significar a igreja que professava a fé ortodoxa, em contraste com os hereges. Com o passar do tempo, Roma adotou o termo para referir-se a si mesma como instituição eclesiástica, centrada no papado, historicamente desenvolvida e geograficamente difundida. Os reformadores do século dezesseis procuraram restaurar o significado anterior da catolicidade, em termos do reconhecimento da fé ortodoxa; nesse sentido, argumentavam eles, a igreja católica era de fato eles e não Roma.
O principal aspecto da catolicidade da igreja primitiva estava na sua abertura para todos. Distinta do judaísmo, com seu exclusivismo racial, e do gnosticismo, com seu exclusivismo cultural e intelectual, a igreja abriu seus braços a todos que quisessem ouvir a mensagem e aceitar seu salvador, sem levar em conta cor, raça, posição social, capacidade intelectual e antecedentes morais. Ela surgiu no mundo como uma fé para todos (Mt 28.19; Ap 7.9). A única exigência para admissão era a fé pessoal em Jesus Cristo como Salvador e Senhor, com o batismo como o rito autorizado de entrada, porque manifestava o evangelho da graça (Mt 28.19; At 2.38,41).
É neste nível fundamental que esta característica (a de ser católica) deve ser entendida. As igrejas que exigem outros testes devem ser consideradas como suspeitas. Não existe lugar numa verdadeira igreja para a discriminação de qualquer tipo, seja racial, de cor, social, intelectual ou moral, neste último caso desde que haja evidência de verdadeira arrependimento. A discriminação denominacional também precisa ser examinada com cuidado nos casos em que as doutrinas fundamentais bíblicas sejam claramente reconhecidas.

APOSTÓLICA
O apóstolo é uma testemunha do ministério e da ressurreição de Jesus; é um arauto autorizado do evangelho (Lc 6.12s; At 1.21s; 1 Co 15.8-10). Os arautos tomam posição entre Jesus e todas as gerações subseqüentes da fé cristã; nós só nos achegamos a ele por meio dos apóstolos e de seu testemunho sobre ele, incorporado no Novo Testamento. Neste sentido fundamental, toda a igreja é "edificada sobre o fundamento dos apóstolos" (Ef 2.20; cf. Mt 16.18; Ap 21.14). A apostolicidade da igreja encontra-se, portanto, no fato de ela conformar-se à fé apostólica "que uma vez por todas foi entregue ao santos" (Jd 3; cf. At 2.42). Os apóstolos ainda governam e organizam a igreja na medida em que esta permite que sua vida, seu entendimento e sua pregação sejam constantemente reformados pelos ensinos das Sagradas Escrituras.
Desde que o apóstolo significa literalmente enviado, não é de surpreender que o Novo Testamento refira-se ocasionalmente a outros apóstolos (Rm 16.7). Neste sentido geral, todos os que são hoje enviados pelo Senhor como evangelistas, pregadores, iniciadores de igrejas, etc. são no grego do Novo Testamento, apostoloi, enviados. Isto não subentende de forma alguma que eles tenham uma posição de autoridade especial, competindo com a do grupo original cujo governo continua através das escrituras apostólicas. Reivindicar o cargo apostólico em nossos dias é compreender erradamente o ensino bíblico e oferece na prática um desafio grave com respeito à autoridade e finalidade da revelação divina do Novo Testamento.
É igualmente errado entender a apostolicidade como uma continuidade histórica do ministério, retrocedendo até Cristo e seus apóstolos através de uma sucessão de bispos. Esta interpretação não tem nenhum apoio bíblico. Toda noção da graça de Deus comunicada mediante uma sucessão histórica de dignatários da igreja contraria o caráter da própria graça, conforme os escritos bíblicos. Além disso, como garantia da verdade da mensagem apostólica, a sucessão episcopal evidentemente falhou. Foi uma igreja perfeitamente enquadrada nesta sucessão histórica que precisou da Reforma do século dezesseis, para não mencionar outras reformas menores, como o despertamento do século dezoito com Whitefield e os Wesleys.
O catolicismo romano estende esta interpretação de "apostólico" para incluir a reivindicação de que o Bispo de Roma é o sucessor histórico de Pedro e o guardião especial da graça de Deus na igreja. A alegação é insustentável. A primazia de Pedro entre os apóstolos não passou de uma clara liderança no período da primeira missão cristã. Ele claramente recuou para um segundo plano à medida que a igreja avançou fora de Jerusalém, sendo Paulo nomeado para liderar a missão fora da Palestina e quando João lutava para corrigir as igrejas prejudicadas pelos falsos mestres. É bem significante que Pedro não apareceu no papel principal no Concílio de Jerusalém (At 15), e que ficou claramente à sombra de Paulo no incidente registrado em Gálatas 2.
Roma alega ainda que esta suposta supremacia de Pedro deveria continuar para a salvação eterna e bem contínuo da igreja. Nenhum dos versículos citados como apoio escriturístico (Mt 16.18s; Jo 21.15-17 e Lc 22.32) faz qualquer referência a um sucessor de Pedro. Essas duas reivindicações romanas contrariam a evidência manifesta no Novo Testamento, e a terceira, de que a primazia de Pedro se estende ao bispo de Roma, é ainda menos digna de crédito. O fato de Pedro ter terminado sua vida como mártir em Roma é uma tradição primitiva que encontra apoio razoável; as dificuldades histórica, porém, para mostrar que houve uma sucessão estabelecida de bispos monárquicos de Roma, a partir do primeiro século, são intransponíveis.
A sucessão apostólica é na verdade a sucessão do evangelho apostólico, quando o depósito original de verdade apostólica é passado de uma para outra geração: "homens fiéis ... para instruir a outros" (2 Tm 2.2). A igreja é apostólica à medida que reconhece na prática a autoridade suprema das escrituras apostólicas.

OS SINAIS DOS REFORMADORES
Embora os Reformadores não pusessem de lado esses quatro sinais tradicionais, as controvérsias em que se viram envolvidos prenderam sua atenção em outras coisas. Eles identificaram duas características da igreja verdadeira e visível. "Onde quer que vejamos a Palavra de Deus pregada e ouvida em toda a sua pureza e os sacramentos ministrados segundo a instituição de Cristo, não há dúvida de que existe uma igreja de Deus" (João Calvino).
"A Palavra pregada em toda a sua pureza" trouxe à tona a supremacia do evangelho bíblico e forma precisamente nesse ponto que surgira a verdadeira ruptura com Roma. Atrás desta ênfase havia uma convicção quanto ao elo indissolúvel entre a Palavra escrita e o Espírito; pertencer à comunidade do Espírito iria necessariamente refletir a submissão à Palavra que o Espírito havia inspirado. Os Reformadores desconheciam qualquer Espírito que não levasse à Palavra; desconheciam qualquer amor por Deus que não estivesse ligado à fé e à verdade. O outro ponto em que discerniram a verdadeira igreja, os sacramentos, era também polêmico, já que foi no aspecto do ensino e da prática com relação aos sacramentos que os Reformadores viram a mais clara violação da religião bíblica por parte de Roma.
A existência de grupos cristãos (p. ex. o Exército da Salvação e a Sociedade dos Amigos) que não possuem sacramentos faz-nos hesitar quanto à afirmação de que os sacramentos são essenciais para que a igreja seja verdadeira. Não obstante, nosso Senhor claramente considerou o batismo como intimamente ligado à mensagem da igreja e à resposta humana a ela (Mt 28.19s), e a participação na Ceia como fundamental para a vida da igreja (Lc 22.19; 1 Co 11.24s).
Podemos generalizar esses sinais afirmando que o sinal supremo para os Reformadores era o próprio Cristo. Ele é o centro da Palavra e o cerne dos sacramentos.

A MISSÃO – UM SINAL AUSENTE?
Nas instruções de Jesus sobre a vida da igreja (Jo 13-16; Lc 10.1-20; At 1.1-8), encontramos um elemento não abordado nas características da igreja identificadas até agora, que é a missão: a responsabilidade de levar as boas novas de Jesus aos confins da Terra.
Existe certamente grande significado no fato de a história da igreja do Novo Testamento, o livro de Atos, Ter como seu tema principal a expansão sucessiva na pregação do evangelho: Jerusalém, Judéia, Samaria, e, em seguida, o mundo gentio (1.8; cf. 6.8s; 7; 8; 10.34-38; 11.19-26; 13.1ss). A igreja é missão talvez seja uma frase exagerada, mas em seu serviço total ao propósito e à glória de Deus, a missão é um ingrediente bíblico fundamental.
Assim sendo, uma igreja que não prega o evangelho não sente a responsabilidade pelo bem-estar moral e espiritual dos que a rodeiam, nem expressa interesse pelos pobres e necessitados onde quer que eles sejam encontrados, perdeu seu direito à autenticidade, constituindo-se numa negativa viva de seu Senhor.
Para resumir: a verdadeira igreja será reconhecida pela sua unidade nos relacionamentos, pela sua santidade de vida, pela sua abertura a todos, pela sua submissão à autoridade das escrituras, pela sua pregação de Cristo em palavras e sacramentos, e pelo seu compromisso com a missão.

4º ESTUDO DO EVANGELHO DE MARCOS

O Evangelho de Marcos – cap.14. 43 NVI)

(14.43) Enquanto Ele ainda falava, apareceu Judas, um dos Doze.

Os relatos a partir desse momento são fragmentados. Enquanto a prisão de Jesus aconteceu rapidamente e no meio de uma confusão geral, os acontecimentos posteriores, como interrogatórios e julgamento, carecem de testemunhas de dentro do círculo dos discípulos. Fatos isolados, relatados ou lembrados por pessoas, que mais tarde se tornaram cristãs, montaram a história como a temos nos quatro evangelhos. Por essa razão há notáveis diferenças nos quatro relatos quanto ao que realmente aconteceu naquela noite. O evangelho de Marcos, como o mais antigo e o de João nos parecem ser os mais exatos. No relato de Marcos (Pedro) há lacunas, momentos dos quais o evangelista não dispunha de informações. O evangelho de João muitas vezes nos ajuda a preenchê-las. É nos relatos da paixão que os vestígios da tradição da Igreja aparecem mais nitidamente. Percebemos evoluções na compreensão daquilo que transformou o mundo, abrindo o Reino de Deus a nós, que estávamos longe dele. Nós, os gentios.

(14.43) Enquanto Ele ainda falava, apareceu Judas, um dos Doze. O exemplo mais dramático de como a tradição consegue influenciar a crença é a pessoa de Judas. Depois da prisão de Jesus, ele não mais aparece no evangelho de Marcos, desaparecendo assim na escuridão da história. De lá para cá, sua imagem foi-se mudando ano a ano para pior. No evangelho de Mateus, posterior ao de Marcos, ele já apareceu com o título de “ávido por dinheiro que finalmente se enforcou” (26.14 e 27.3-10). Em Lucas é apresentado como “traidor possesso pelo diabo” (6.16 e 22.3) e em Atos “sofre uma morte horrível e acaba no inferno” (1.16-20/25). No Evangelho de João, escrito mais tarde ainda, é chamado de “diabo e ladrão”, que traiu o mestre por dinheiro (6.70 e 12.6). Pelos anos 120/130, Papias, um dos pais da Igreja, apresentou nos seus escritos Judas como exemplo supremo do “homem da perdição”, cujo cadáver, quando esticado no chão, cheirava tão mal que ninguém podia passar por perto sem tampar o nariz”. Como se tornou possível que esse discípulo, que andou durante três anos com seu Senhor, acabou sendo amaldiçoado e lembrado dessa forma?
Os primeiros cristãos, historicamente tão perto do martírio de Jesus, não conseguiam aceitar o fato da traição por alguém em que o Mestre confiava. A traição despertava nos primeiros cristãos as emoções e os sentimentos que hoje vemos espelhados nos escritos, quando se referem a Judas. Não somos melhores do que eles, que, pelo menos ficaram profundamente revoltados. A traição de Jesus simplesmente não nos comove como antigamente o fez. O que é pior?

Até hoje, a pessoa de Judas continua envolta em mistério. O movimento gnóstico dos primeiros séculos procurava justificá-lo, criando uma realidade espiritual atrás daquela que Jesus anunciava. A essa Judas teria servido. O “Evangelho de Judas”, recém-descoberto, sem valor histórico, é um exemplo dessa interpretação fantasiosa. Na procura do verdadeiro Judas e da motivação para seu ato tampouco ajudam a carimbá-lo simplesmente como ladrão, que por dinheiro vendeu seu mestre. Tão simples não é! Havemos de procurar mais a fundo.

Primeiro devemos entender em que consistia a tal “traição”. Parece que Judas se dispôs a informar as autoridades religiosas a respeito de hora e lugar onde podiam prender Jesus sem que houvesse tumulto, e “sem que a multidão estivesse presente” (Luc.22.6). A cidade estava repleta de peregrinos e qualquer ação mal-sucedida, como confusão ou engano quanto à pessoa aprisionada, podia desencadear desordem e perigo para o clero, pois os militares romanos estavam de prontidão por causa da festa.
Na pergunta a respeito do “por que” mergulhamos mais fundo. Judas certamente não era um “espião” infiltrado no grupo dos Doze, como já fora sugerido. Tudo indica que ele se juntou aos muitos seguidores (de entre os quais mais tarde foi convidado para fazer parte dos Doze) vindo da remota vila de Kerijot-Hezron ao sul de Hebron. Todos os demais discípulos eram galileus, vindo da região onde Jesus iniciou seu ministério. Judas como único “não-galileu” veio de longe, o que prova que seu anseio pela nova mensagem era verdadeiro. Parece que foi exatamente esse anseio pela concretização do Reino de Deus que o levou à ruína.

A partir das declarações de Jesus quanto ao sofrimento que O aguardava, Judas viveu uma profunda e crescente decepção para com o seu Mestre. Talvez ainda tivesse chegado à Jerusalém na expectativa da imediata e poderosa revelação desse Reino, mas para seu desencanto teve que constatar que, a partir da purificação do Templo, tudo apontava para catástrofe e fim. A alguma altura, quem sabe já enquanto na Galiléia, talvez somente em Jerusalém, Judas entrou em contato com as autoridades religiosas. Por João (11.45-57) sabemos que essas, quando ouviram os relatos da ressurreição de um morto por Jesus (Lázaro) e que chegaram a causar espanto em Jerusalém, editaram um decreto que obrigava cada judeu fiel a denunciar o paradeiro de Jesus. Da mesma forma os decretos papais durante o longo período da Inquisição obrigavam os fiéis a denunciarem hereges, mesmo se da própria família. Assim Judas se via entre sua crescente decepção como o “projeto do Reino” e sua obrigação como fiel judeu perante as autoridades religiosas. No seu íntimo havia optado por, na hora oportuna, entregar seu Mestre.
A gota d’água foi o incidente na casa de Maria em Betânia (veja Marcos 14.10,11). Ali Jesus havia declarado, quando ungido por uma mulher, considerar o ato como sua “preparação para o sepultamento”. Sepultamento? Fora essa a visão do seu mestre? Daí em diante, para Judas era somente uma questão de tempo e oportunidade de pular do barco e pôr fim a esse “movimento fracassado”.

Caso seja essa a interpretação correta, como a maioria dos comentaristas aposta, a história de Judas é uma tragédia. Tragédia de um homem cujo projeto de vida ruiu. Enquanto os demais discípulos, embora desorientados, continuavam fiéis a seu Mestre, Judas era radical. Alguns levantam a hipótese de que Judas, com sua ação, queria forçar Jesus a mostrar poder, quase obrigá-lo a revelar quem era, trazendo o Reino “agora e já”.

Mateus sabe de um posterior remorso de Judas, quando ele percebeu seu erro, o que só aumentou a sua tragédia (Mateus 27.1-10).

Seja como for, quem somos nós para julgar a esse homem e mandá-lo para o inferno? A nossa história brasileira conhece muitos que se escandalizaram com Cristo, pois não O entenderam. Hoje, grandes personalidades, jornalistas de rádio e TV contam prazerosamente como “um dia estavam perto do Evangelho”, mas, devido “ao que viram e viveram”, chegaram a escandalizar-se com Cristo e hoje O desprezam e disso ainda se gabam, bem ao contrário de Judas.

Você que lê, se você está seguindo a Jesus, peça que Ele o(a) mantenha fiel. Você sozinho corre perigo de vida, se continuar julgando somente pelo que você consegue ver e sentir: bênçãos, revelações, provas. Dê liberdade a Jesus para usar tudo quanto lhe ocorrer para seu bem eterno!

QUE DEUS OS ABENÇOE !

sexta-feira, dezembro 01, 2006

3º ESTUDO DO EVANGELHO DE MARCOS

O Evangelho de Marcos – cap.14. 32-42 NVI)

(14.32) Então foram para um lugar chamado Getsêmani, e Jesus disse aos seus discípulos: “Sentem-se aqui enquanto vou orar”. (33) Levou consigo Pedro,Tiago e João, e começou a ficar aflito e angustiado. (34) E lhes disse: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem”. (35) Indo um pouco mais adiante, prostrou-se e orava para que, se possível, fosse afastada dele aquela hora. (36) E dizia: “Abba,Pai, tudo te é possível. Afaste de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres”. (37) Então, voltou aos seus discípulos e os encontrou dormindo. “Simão”, disse Ele a Pedro, “você está dormindo? Não pode vigiar nem por uma hora? (38) Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O Espírito está pronto, mas a carne é fraca.” (39) Mais uma vez Ele se afastou e orou, repetindo as mesmas palavras. (40) Quando voltou, de novo os encontrou dormindo, porque seus olhos estavam pesados. Eles não sabiam o que lhe dizer. (41) Voltando pela terceira vez, Ele lhes disse: “Vocês ainda dormem e descansam? Basta! Chegou a hora! Eis que o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. (42) Levantem-se e vamos! Aí vem aquele que me trai!”

(14.32) Então foram para um lugar chamado Getsêmani. O caminho pelo qual o grupo dos homens saiu da cidade, cansado e conturbado, é uma rota antiga em uso há séculos. Por ela fugiu o rei Davi de seu filho sedento pelo poder, há 1000 anos, descalço e chorando, junto com seus homens (2 Sam.15.23). O caminho por onde o pequeno grupo se movimentou, nesse dia do mês era iluminado pela pálida luz da lua e, à direita dos homens cansados, erguiam-se vários grandes túmulos, lançando longas sombras. O de Zacarias, em forma de pirâmide e que ainda hoje existe, já estava ali quando Jesus por ele passou, rumo ao jardim Getsemani à procura de solidão. O apóstolo João menciona um jardim sobre o ribeiro Cedrom (18.1) onde Jesus ia muitas vezes com seus discípulos. Desde o século 4 este jardim é localizado perto desse riacho. Aos peregrinos atuais, três locais são apresentados: o jardim Franciscano, o Getsêmani russo e Getsêmani armênio. O nome “Getsêmani” tem sua raiz em duas palavras hebraicas: “gath” (Prensa) e “Shemânîm” (Azeite). Supõe-se que naquele jardim com suas grandes oliveiras havia uma prensa para o precioso produto. Bom azeite só podia ser produzido em locais frescos, por exemplo, em cavernas. Portanto, a descoberta de uma caverna natural com a entrada de 10 por 17 metros ajudou a localizar este jardim, no tempo de Jesus propriedade particular e murado. Outras vezes Jesus já o havia procurado para o descanso ou para o pernoite.
E Jesus disse aos seus discípulos: “Sentem-se aqui enquanto vou orar”. Para os discípulos não era algo incomum Jesus retirando-se para orar, sozinho. Muitas vezes O viram fazer isso. Neste momento, o coração de Jesus estava sedento da comunhão com seu Pai Celeste; Ele precisava com urgência sentir que não estava abandonado pelo Pai, uma vez que já sabia que ficaria só dentro de poucas horas. A grande maioria dos seus seguidores não havia captado o quanto seu mestre estava angustiado.
Assim, Jesus se afastou do grupo que, provavelmente na entrada da caverna, havia se instalado para o merecido descanso. O dia havia sido longo, começando com a procura do local para a ceia pascal, os preparativos em si e depois a demorada ceia com as sinistras previsões de uma possível traição. As palavras de despedida haviam deixado o grupo confuso. (33) Levou consigo Pedro, Tiago e João, e começou a ficar aflito e angustiado. Relatórios posteriores, assim como o Evangelho de João, não mais mencionaram o tamanho de aflição e da angústia pela qual Jesus passava, com medo de, com isso, diminuir a Glória do Senhor. Jesus precisava da comunhão não só com Deus; Ele procurou também a proximidade dos três discípulos principais, nos quais Ele mais confiava. Estes se tornaram testemunhas oculares da agonia que havia tomado conta do seu Mestre.
A vontade do Pai, durante os três anos de ministério sempre procurada e cumprida, a esta altura exigiu alguma coisa a mais, algo que Jesus ainda não conhecia. O doador da vida, Cristo, do qual a morte e as doenças haviam fugido tantas vezes durante seu ministério, ao qual a morte não tinha direito adquirido, entendeu que chegou a hora de dar a sua vida pelas vidas de seus amigos. (34) E lhes disse: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem”. (35) Indo um pouco mais adiante, prostrou-se e orava para que, se possível, fosse afastada dele aquela hora. Os três observavam como Jesus se afastou um pouco e, ao contrário do costume judeu de orar com mãos erguidas, caindo no chão e “prostrado em terra” começou clamar com voz alta. Por algum tempo O escutaram, mas logo o cansaço os venceu.

Já houve perguntas e escândalos pelo fato do Filho de Deus, tendo dado há muito tempo seu “sim” aos caminhos do Pai, ter caído em tal angústia e pavor perante a morte. Apontaram para pessoas que, a contrário de Jesus, a enfrentaram com serenidade, como Sócrates, por exemplo. Quem olha o episódio de Getsêmani desse ângulo, não tem compreendido o sentido da história da Salvação. Deus veio em carne (“incarnatus est”). A luta do homem-Deus era, mas não unicamente, contra a morte física. Jesus estava sendo afligido porque procurava da parte do Pai a confirmação de que essa sua morte não seria em vão. Enquanto o teólogo Paulo mais tarde compreendeu pelo Espírito Santo que em Jesus o sacrifício perfeito foi realizado, justificando os homens de uma vez para todas, fazendo desnecessário outros sacrifícios, para Jesus, essa certeza ainda era fé, obediência aos caminhos do Pai. Até então, Jesus nunca havia questionado a vontade do Pai para com Ele. Agora, porém, frente à morte, o pavor era natural pois Jesus era tanto homem e sofreu a morte como tal, quanto Deus, que, em pessoa, fora julgado, rejeitado e sacrificado. Essa compreensão dupla fez Jesus tremer. (36) E dizia: “Abba,Pai, tudo te é possível. Afaste de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres”. Como homem, era pesado demais cumprir a profecia que Jesus bem conhecia (leia Isaías cap. 53). Dentro de poucos minutos poderia alcançar o cume do monte das Oliveiras e desaparecer na escuridão, quem sabe, para depois tentar outro começo. A tentação era grande, mas outra vez Jesus decidiu em favor da obediência ao Pai.
(37) Então, voltou aos seus discípulos e os encontrou dormindo. “Simão”, disse Ele a Pedro, “você está dormindo? Não pode vigiar nem por uma hora”? Somente Marcos nos traz a pergunta amarga de Jesus a Pedro tão direta: “Simão, tu dormes? Não podes vigiar comigo nem por uma hora?” Pedro nunca a esqueceu. (38) Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O Espírito está pronto, mas a carne é fraca.” Jesus viu o perigo até por parte de seus seguidores. Vigiem! E como para justificar o pavor que Ele mesmo sentia, confessou (parafraseado): “meu espírito está pronto, mas eu sou fraco, preciso de sua ajuda e companhia!”. (39) Mais uma vez Ele se afastou e orou, repetindo as mesmas palavras. (40) Quando voltou, de novo os encontrou dormindo, porque seus olhos estavam pesados. Eles não sabiam o que lhe dizer. Após outra vez derramar seu coração perante seu Pai, encontrava seus discípulos cochilando e, quando os chamou, estes não sabiam nem justificar seu comportamento. Estavam simplesmente exaustos e sonolentos demais para notar o que se passava.
(41) Voltando pela terceira vez, Ele lhes disse: “Vocês ainda dormem e descansam? Não sabemos por quanto tempo Jesus orou. Suas palavras, quando voltou pela terceira vez, revelaram decepção e aceitação do fato ao mesmo tempo. O mestre agora lhes pareceu diferente: seguro e decidido. Exortou seus amigos sonolentos a se levantarem: Basta! Chegou a hora! Eis que o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. (42) Levantem-se e vamos! Aí vem aquele que me trai!” Na conversa com Seu Pai havia recebido força e confirmação para o seu caminho. Ainda enquanto falava, ouviu barulho de gente, viu luzes trêmulas de tochas acesas iluminando o bosque. Na entrada da caverna Jesus ficou esperando pela chegada da turba barulhenta que se aproximou. Só uma pessoa podia saber onde Jesus se encontrava a essa hora: Judas, aquele que saiu durante a ceia e desapareceu na noite (João 13.30).
DEUS OS ABENÇOE!